quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O Evangelho de Mateus - João O Batista Aquele Que Batiza


João pregou ao povo da promessa, e se restringiu à terra da Judeia. Ele não pregou em
Jerusalém, mas permaneceu no deserto. A razão é óbvia: Deus não iria aprovar o degenerado
sistema do judaísmo, mas pôs o Seu mensageiro fora do círculo religioso daqueles dias. O
“deserto” nada mais era do que uma simbologia da esterilidade e desolação espiritual de Israel.
A mensagem de João era simples e direta: “Arrependei-vos”. Era um chamamento a Israel
para se julgarem a si mesmos. Era uma palavra que demandava da parte dos judeus colocar-se no lugar apropriado diante de Deus, confessando os seus pecados. Era somente dessa forma que se poderia preparar um povo para o Senhor, o Messias.
O chamado ao arrependimento recebeu um reforço apropriado com um aviso apropriado: “Arrependei-vos, porque está próximo o Reino dos Céus”. Repare, “Arrependei-vos” não porque “o Salvador está próximo”, nem porque “O Deus encarnado já está entre vós”, nem mesmo porque “Uma nova dispensação se iniciou”; mas porque “o Reino dos Céus está próximo”. O que será que os ouvintes de João entenderam com essa expressão? Que significado será que esses judeus atribuíram a essas palavras? É evidente que o Batista não empregou linguagem que os seus ouvintes não pudessem compreender. E ainda nos dizem que devemos acreditar que João estava, aqui, apresentando o Cristianismo! É difícil imaginar teoria mais extravagante e ridícula. Se, ao dizer “O Reino dos Céus”, João queria dizer a dispensação cristã, então ele se dirigiu a esses ouvintes judeus numa língua desconhecida. Isso nós afirmamos com cautelosa serenidade: se João ordenou o arrependimento a seus ouvintes porque a dispensação cristã estava-se iniciando, ele estava zombando deles, por empregar um termo que não apenas era completamente incompreensível para eles, mas também totalmente equivocado. Acusar o mensageiro de Deus de fazer isso quase equivale a cometer um pecado cujo nome preferimos nem mencionar.

Insistimos na pergunta: O que, então, os ouvintes de João entenderam quando ele disse:
“Arrependei-vos, porque está próximo o Reino dos Céus”? Ao se dirigir a pessoas que estavam familiarizadas com as Escrituras do Antigo Testamento, só haveria uma forma de entender as palavras dele, ou seja, que ele estava se referindo ao Reino de que inúmeras vezes falaram os seus profetas — o Reino Messiânico. Aquilo que haveria de distinguir o Reino Messiânico de todos os reinos que o precederam era isto: todos os reinos deste mundo eram dominados por Satanás e suas hostes, enquanto o Reino Messiânico, quando estabelecido, seria o governo dos Céus sobre a terra.

Surge a questão: por que Israel rejeitou o Reino para o qual o seu coração estava sendo
preparado? Não significaria o estabelecimento do Reino Messiânico o fim do domínio romano? 
E não era isso o que eles desejavam mais do que a qualquer outra coisa? Em resposta a isso, há várias coisas que temos de considerar. Em primeiro lugar, é errado dizer que Israel “recusou” o Reino, porque, na verdade, o Reino em nenhum momento foi “oferecido” a eles — o Reino, na verdade, foi anunciado ou proclamado. O Reino estava “próximo” porque o Herdeiro do trono de Davi estava prestes a apresentar-Se a eles.
Em segundo lugar, antes que se pudesse estabelecer o Reino, Israel teria de se “arrepender”, mas isso, como se sabe muito bem, era exatamente aquilo que eles, como nação, terminantemente se recusaram a fazer. Em Lucas 7.29,30 lemos: “Todo o povo que o ouviu e até os publicanos reconheceram a justiça de Deus, tendo sido batizados com o batismo de João; mas os fariseus e os intérpretes da Lei rejeitaram, quanto a si mesmos, o desígnio de Deus, não tendo sido batizados por ele”.

Em terceiro lugar, talvez o leitor entenda melhor o que pretendemos dizer se usarmos a ilustração de uma analogia: o mundo, na atualidade, deseja ardentemente uma Nova Era. Um milênio de paz e descanso é o grande desiderato de diplomatas e políticos. Mas eles a querem em seus próprios termos. Desejam criá-la por seus próprios esforços. Eles não desejam um Milênio instalado pela volta à terra do Senhor Jesus Cristo. Era exatamente assim com Israel nos dias de João Batista.
Por Que Quatro Evangelhos? — A. W. Pink 

terça-feira, 26 de novembro de 2013

O Evangelho de Mateus - Transição

Em seguida, lemos: “Tendo eles partido, eis que apareceu um anjo do Senhor a José, em
sonho, e disse: Dispõe-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito e permanece lá até que
eu te avise; porque Herodes há de procurar o menino para o matar” (2.13). Repare que é José
e não Maria que aparece tão destacadamente nos primeiros dois capítulos de Mateus, porque
não foi por meio de Sua mãe, mas sim através do Seu pai legítimo (adotivo) que o Senhor Jesus obteve o título do trono de Davi — compare Mateus 1.20, onde José é chamado “filho de
Davi”! Também é digno de nota que Mateus é novamente o único dos quatro Evangelistas que
registra essa jornada ao Egito, e o subsequente retorno à Palestina. Isso é profundamente
sugestivo, incrivelmente de acordo com o propósito especial deste primeiro Evangelho, porque mostra como o Messias de Israel ocupou o mesmíssimo lugar onde Israel começou sua história como nação!
“Tendo Herodes morrido, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no Egito,
e disse-lhe: Dispõe-te, toma o menino e sua mãe e vai para a terra de Israel; porque já
morreram os que atentavam contra a vida do menino. Dispôs-se ele, tomou o menino e sua
mãe e regressou para a terra de Israel” (2.19-21). Uma vez mais, descobrimos uma expressão
que revela o caráter peculiarmente judeu da exposição que Mateus faz de Cristo. Este é o único lugar no Novo Testamento onde a Palestina é chamada “a terra de Israel”, e a expressão aparece de forma significante, pois é usada em conexão com o Rei de Israel, e a promessa de que a Palestina se tornará “a terra de Israel” somente se cumprirá de fato no momento em que Ele estabelecer o Seu trono em Jerusalém. Todavia, quão tragicamente sugestiva é a declaração que imediatamente se segue aqui, e que encerra o capítulo 2 de Mateus. Mal nós lemos sobre “a terra de Israel”, e já encontramos um “Mas”; e, nas Escrituras, “mas” sempre assinala um contraste. Lemos aqui: “Tendo, porém, ouvido que Arquelau reinava na Judeia em lugar de seu pai Herodes, temeu ir para lá; e, por divina advertência prevenido em sonho, retirou-se para as regiões da Galileia. E foi habitar numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito por intermédio dos profetas: Ele será chamado Nazareno” (2.22,23). Nazaré era o mais desprezado lugar daquela desprezada província da Galileia, contudo vemos quão logo o Messias assumiu o lugar de desprezo, novamente prenunciando Sua rejeição pelos judeus — contudo, observe-se que a menção de “Nazaré” veio depois da menção de “a terra de Israel”.
Mateus 3 começa apresentando-nos uma figura impressionante: “Naqueles dias” — ou seja,
enquanto o Senhor Jesus permanecia na desprezada Nazaré da Galileia — “apareceu João
Batista pregando no deserto da Judeia”. Ele era o anunciado precursor do Messias de Israel. Ele era aquele de quem Isaías havia dito que prepararia o caminho para o Senhor, e prepararia um povo para recebê-lO assim que Ele Se apresentasse ao público. Ele veio “no espírito e poder de Elias” (Lucas 1.17), para executar trabalho similar ao do tisbita (Mateus 3.3,4).
Por Que Quatro Evangelhos? — A. W. Pink 

terça-feira, 19 de novembro de 2013

O Evangelho de Mateus - Capítulo Dois

Ao chegarmos agora a Mateus 2, podemos observar neste capítulo o registro de um
incidente que nenhum dos outros Evangelistas menciona, mas que é peculiarmente apropriadoneste primeiro Evangelho. Esse incidente é a visita dos sábios que vieram do Oriente para honrar e adorar o Cristo ainda menino. Os detalhes fornecidos pelo Espírito Santo a respeito desta visita ilustram de forma notável o caráter peculiar e o propósito do Evangelho de Mateus.

Este capítulo começa assim: “Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, em dias do rei Herodes,
eis que vieram uns magos do Oriente a Jerusalém. E perguntavam: Onde está o recém-nascido
Rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos para adorá-lo”. Repare que
esses sábios não vieram perguntando “Onde está o recém-nascido Salvador do mundo?”, nem
“Onde está a Palavra encarnada?”; em vez disso, “Onde está o recém-nascido Rei dos judeus?”
O fato de Marcos, Lucas e João silenciarem por completo sobre isso, e o fato de que o
Evangelho de Mateus o registra é evidente prova de que este primeiro Evangelho apresenta
Cristo numa relação distintivamente peculiar com os judeus. Esta evidência soma-se à
expressão peculiar com que Mateus começa seu Evangelho — “Livro da genealogia de”, forma
essa que é uma expressão do Antigo Testamento, e é única em todo o Novo Testamento; ali se
encontra o primeiro título dado a Cristo neste Evangelho: “Filho de Davi”; logo em seguida
aparece a genealogia real; e agora encontramos o registro da visita dos magos, dizendo: “Onde está o recém-nascido Rei dos judeus?” Dessa forma, o Espírito de Deus deixou claro e evidente o caráter peculiarmente judaico desses capítulos iniciais do Evangelho de Mateus, de tal forma que somente quem está ofuscado por preconceito não consegue ver o lugar intencional que este Evangelho ocupa. Dessa forma, também, tornou inescusáveis as tolas discussões que se têm produzido em certos lugares, as quais têm por único objetivo confundir e perturbar.

Mas há muito mais em Mateus 2 do que o reconhecimento de Cristo como o legítimo Rei
dos judeus. Esse incidente contém o prenúncio da recepção que Cristo haveria de ter aqui no
mundo, prevendo o final desde o início. O que temos aqui em Mateus 2 na verdade é uma
descrição profética de todo o andamento do Evangelho de Mateus. Primeiro, temos a
declaração de que o Senhor Jesus havia nascido “Rei dos judeus”; depois temos o fato de que
Cristo não se encontra em Jerusalém, a cidade real, mas fora dela; depois, temos a cegueira e
indiferença dos judeus para com a presença do Filho de Davi entre eles — isso se percebe pelo fato de que, primeiro, Seu próprio povo desconhecia o fato de que o Messias já estava entre eles; e segundo, pelo fato de eles não acompanharem os magos quando estes deixaram
Jerusalém para procurar o menino; depois, são-nos apresentados estrangeiros, vindos de terras distantes, mas que tinham o coração voltado para o Salvador, que O estavam procurando e O adoraram; finalmente, aprendemos sobre o homem que ocupava cargo de autoridade, cheio de ódio, atentando contra a vida do Senhor Jesus. Dessa forma, o incidente, como um todo, prenuncia de forma maravilhosa a rejeição de Cristo pelos judeus, e Sua aceitação por parte dos gentios. Assim, temos aqui resumido todo o encargo do Evangelho de Mateus, cujo propósito especial é mostrar Cristo apresentando-Se a Israel, a rejeição de Israel para com Ele, com o consequente resultado de Deus rejeitar Israel temporariamente, estendendo graciosamene as mãos aos gentios desprezados.
 Por Que Quatro Evangelhos? — A. W. Pink 



terça-feira, 12 de novembro de 2013

O Evangelho de Mateus - Características Genealógicas

Há muitas características dessa genealogia que não podemos considerar agora, mas sua
combinação numérica requer alguns breves comentários. A genealogia se divide em três partes: a primeira seção, de Abraão a Davi, pode ser chamada de período de Preparação; a segunda seção, de Salomão ao cativeiro babilônico, pode ser chamado de período de Degeneração; enquanto o terceiro período, do cativeiro babilônico até o nascimento de Cristo, pode ser chamado de período de Expectação. O número três significa, nas Escrituras, manifestação, e quão apropriado é esse arranjo, porque o propósito de Deus referente a Abraão e seus descendentes não se revela plenamente antes do aparecimento de Cristo. Cada uma dessas três seções da genealogia real contém catorze gerações, ou seja, 2 x 7; dois significa (dentre outras coisas) testemunho ou testemunha competente, e sete representa a perfeição. Novamente nos admiramos com a harmonia desses números nesta genealogia de Cristo, porque é somente nEle que temos perfeito testemunho — a “Testemunha Fiel e Verdadeira”7. Finalmente, repare que 14 x 3 são 42 gerações no total de Abraão até Cristo, ou 7 x 6; sete significa perfeição e seis é o número do homem, de forma que Cristo, o quadragésimo segundo depois de Abraão, é o Homem Perfeito! A Palavra de Deus é perfeita nos mínimos detalhes!
“E Jacó gerou a José, marido de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama o Cristo”
(Mateus 1.16). Mateus não liga José e Jesus como pai e filho, mas se afasta da fraseologia usual
da genealogia, de forma que ressalta a peculiaridade, a singularidade do nascimento do
Salvador.

Abraão gerou Isaque, e Isaque gerou a Jacó, mas José, marido de Maria, não gerou Jesus; em lugar disso, lemos o seguinte: “Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: estando
Maria, sua mãe, desposada com José, sem que tivessem antes coabitado, achou-se grávida pelo
Espírito Santo” (1.18). Exatamente como Isaías predissera (7.14) setecentos anos antes, o
Messias haveria de nascer de “uma virgem”. Mas uma virgem não teria direito ao trono de
Israel, mas José tinha esse direito, já que era descendente direto de Davi; assim, por meio de
José, Seu pai legítimo (lembre-se de que o noivado era, para os judeus, um compromisso tão
sério quanto o casamento o é para nós), o Senhor Jesus teve assegurados os Seus direitos, pelo parentesco, de ser rei dos judeus
Por Que Quatro Evangelhos? — A. W. Pink 

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Livres do Mal

Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal – João 17: 15.

Quando Jesus usa a expressão, livrar do mal, não estava se referindo a dor, ou prejuízo que por acaso os discípulos viessem sofrer. Pedro e João são submetidos a interrogatório e surra pelos mesmos fariseus que condenaram Jesus. Tiago, irmão de João é morto por Herodes, não foi livre deste homem mal. Livrar do mal não impediu Estevão de ser apedrejado, ou os novos discípulos depois disso serem dispersos.

Livrar do mal é livrar da condenação do pecado, da atração e corrupção dele na vida do crente em Cristo Jesus. É livrar do pecado de dentro e do que rodeia de perto. Matar o corpo de morte crucificando-o, impedindo dessa forma a ação do mal na vida do resgatado pelo Senhor. Como Jesus livrou do mal as ovelhas que apascentava, assim ele ora ao Pai para que houvesse continuação, livrando-as mesmo estando elas no mundo sem vê-lo como o viam antes.

Não peço que os tires do mundo – há muitos momentos que o desejo do servo do Senhor é que ele o retire do mundo, aflição, aborrecimento, perda... mas Jesus pede ao Pai para não nos tirar do mundo, mas que nos livrasse do mal, isto é, haverá provas no mundo. Temos um campo de provas e não temos o direito nem o poder de fugirmos dele. Toda a obra de crescimento será completada na vida do discípulo.

Do mundo seremos tirados um dia, mas isso só acontecerá quando formos tirados do mal, e o mal for tirado de nós. Lembremos que Jesus nos ensina a orar ao Pai, “e não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos no mal.” O Senhor Jesus que orou por nós na terra, nos ensina a orarmos também, “livra-nos do mal”. Agora Ele está ao lado de Deus Pai no céu intercedendo por nós para que sejamos livres do mal – é maravilhoso, estamos nas mãos de quem livra.


Buscai o Reino

Buscai o reino, porque vosso Pai agradou dar-vos o reino – Lucas 12: 31 e 32
As nações do mundo vivem para o reino do mundo, são solícitas inquietas e ansiosas para as coisas desta vida. Vós não sois do mundo, vosso reino é outro, portanto busquem-no e vosso Pai vos dará as coisas que dizem respeito a vida no mundo.
Fiquem espertos para receberem o reino – Lucas 12:35.
Lc 12:32 Não temais, ó pequeno rebanho, porque a vosso Pai agradou dar-vos o reino.
Lc 12:33 Vendei o que tendes, e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não se envelheçam; tesouro nos céus que nunca acabe, aonde não chega ladrão e a traça não rói.
Lc 12:34 Porque, onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração.

Lc 12:35 Estejam cingidos os vossos lombos, e acesas as vossas candeias. 

sábado, 9 de novembro de 2013

Caminho de Luz

Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito. O caminho dos ímpios é como a escuridão; nem sabem em que tropeçam.

Provérbios de Salomão 4: 18 e 19

Levantando as cinco ou seis horas da manhã, saindo ainda escuro de casa, vendo o dia amanhecendo, experimentando as sombras, o frio, a solidão da madrugada, para daqui há pouco enxergar a aurora.

A luz da aurora é uma certeza de que haverá um dia que logo, logo amanhecerá, o tempo vai esquentar outras pessoas se juntarão a mim. O início é sombrio e tênue, sem muita vontade de se começar a caminhada para o dia que se tornará perfeito, afinal o meio dia chegará, a luz da aurora nos dá essa esperança.

E a vereda do justo é comparada a essa luz, somos acordados pelo Senhor da vida, caminhamos sem muita vontade no início, vemos o dia clareando, isto é, nosso caminho de santidade se torna cada dia mais santo. Nos juntamos a outros que percorrem o mesmo dia, nos esquentamos juntos com a Luz da vida, que é Jesus. Mas o dia é para ser perfeito, pois a vereda do justo é comparada a luz da aurora, fraca no início, porém radiante no meio dia.

“E temos mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça, e a estrela da alva apareça em vossos corações.”

I Pedro 1: 19.





terça-feira, 5 de novembro de 2013

O Evangelho de Mateus - Capítulo Um

Depois de considerar tão longamente a respeito do primeiro versículo deste Evangelho, é
bom chamarmos a atenção para o fato de que o restante do capítulo, até o final do verso 17,
ocupa-se com a genealogia de Jesus Cristo. O principal significado disso é digno de nossa maior atenção, porque é aqui que se define a característica deste Evangelho e seu tema dominante. O primeiro livro do Novo Testamento começa com uma longa lista de nomes! Que evidência de  que não foi idéia humana a composição deste livro! Mas os pensamentos e os caminhos de Deus são sempre diferentes dos nossos, e também sempre são perfeitos. A razão desta genealogia não é difícil de encontrar. Como já vimos, a frase inicial de Mateus traz em si a chave do livro, dando-nos a clara indicação de que Cristo é visto aqui, primeiro, em Seu relacionamento com os judeus, plenamente apto para assentar-se no trono de Davi. Como se justifica, então o Seu título? Mostrando a Sua ligação humana à tribo do rei, apresentando a Sua linhagem real. Um título real para ocupar o trono não depende de voto público, mas reside nos direitos de nascença. Por isso, a primeira coisa que as Sagradas Escrituras fazem é nos dar a real genealogia do Messias, mostrando que, como descendente direto de Davi, Ele tinha pleno direito ao trono de Israel.

A genealogia registrada em Mateus 1 não nos dá meramente a ascendência humana de
Cristo, mas, especialmente, a linhagem real. Essa é uma das principais características que
diferenciam esta lista da genealogia registrada em Lucas 3. O principal objetivo de Mateus 1.1-
17 é provar o direito de Cristo de reinar como Rei dos Judeus. Essa é a razão por que a
genealogia retrocede apenas até Abraão, já que este é o pai do povo hebreu. É por isso que, no primeiro versículo, a ordem é “Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão”, em vez de “filho
de Abraão, filho de Davi” como se poderia esperar da ordem que Mateus adota logo em
seguida: ali ele começa com Abraão e prossegue até Davi. Por que, então, se inverte essa
ordem no primeiro versículo? A resposta tem de ser que Davi aparece primeiro porque é a
linhagem real que se está destacando aqui! Isso também explica por que, no verso 2, lemos:
“Abraão gerou a Isaque; Isaque, a Jacó; Jacó, a Judá e a seus irmãos”. Por que deveria apenas
Judá ser mencionado aqui, sem referência aos demais onze irmãos? Por que não dizer “Jacó
gerou Rúben e seus irmãos”, já que era esse o primogênito de Jacó? Se alguém argumentar que o direito de primogenitura foi transferido de Rúben para José, então perguntamos por que não dizer “Jacó gerou José”? já que José era seu filho predileto? A resposta é a seguinte: Judá era a tribo real, e é a linhagem real que temos diante de nós, aqui em Mateus capítulo 1. Outra coisa: no verso 6, lemos: “Jessé gerou ao rei Davi; e o rei Davi, a Salomão, da que fora mulher de Urias”. De todos os que reinaram, e foram mencionados nesta lista de Mateus, Davi é o único da lista chamado “rei”, e isso duas vezes no mesmo versículo! Por que isso, se não para dar a Davi especial proeminência, e dessa forma nos mostrar o valor do título dado a nosso Senhor no primeiro versículo: “Filho de Davi”?
Por Que Quatro Evangelhos? — A. W. Pink