Eles queriam, de fato, a libertação do domínio romano. Queriam, de
fato, ser libertos para
sempre do jugo dos gentios. Anelavam, de fato, um milênio de
tranquila prosperidade numa
Palestina restaurada, mas eles não queriam isso segundo as condições
de DEUS.
Em todos os quatro Evangelhos, há menção do ministério de João
Batista — uns com mais
outros com menos detalhes —, mas Mateus é o único que registra estas
palavras: “Arrependei vos, porque o Reino dos céus está próximo”. Se não
considerarmos isto, não estaremos
“manejando bem a palavra da verdade”. Isso é não perceber as
distinções características que o Espírito Santo imprimiu nos quatro Evangelhos. É reduzir as quatro
delineações independentes da pessoa e do ministério de Cristo a uma confusão sem sentido. É
revelar a incompetência de um pretenso mestre das Escrituras, alguém que não é um “escriba
versado no reino dos céus” (Mateus 13.52).
O batismo de João confirmou a sua pregação. Ele batizou “à vista de
arrependimento”, e
no Jordão, o rio da morte. eram batizados “confessando os seus pecados”
(Marcos 1.5), dos
quais a morte era a paga justa, o salário merecido. Mas o batismo
cristão é totalmente diferente disso: nele, não assumimos o lugar daqueles que merecem a morte, mas
daqueles que declaram o fato de que já morreram com Cristo.
Não é nosso propósito empreender uma exposição detalhada deste
Evangelho; em vez
disso, selecionamos os traços que são característicos e peculiares a
este primeiro Evangelho.
Por isso, talvez devamos reparar numa expressão encontrada em 3.11, e
que não ocorre em
nenhum outro lugar do Novo Testamento a não ser nos Evangelhos, e
esta referência é a mais
notável porque ela é parcialmente citada no livro de Atos. Aqui o
precursor do Senhor fala com os fariseus e saduceus, que “vinham ao batismo”. João Batista logo percebeu
que eles não
estavam em condições de serem batizados; eles tinham sido advertidos
a fugir da ira vindoura, e tinham de produzir “fruto digno de arrependimento”
(no caso deles, humilhar-se diante de Deus, abandonar suas soberbas pretensões e justiça própria, e assumir
lugar entre aqueles que sinceramente se reconheciam como pecadores e confessavam seus pecados
publicamente), e a quem João tinha dito: “e não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos
por pai a Abraão;
porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos
(repare bem, não filhos a
Deus, mas sim) a Abraão” (verso 9); a esses João anunciou: “mas
aquele que vem depois de
mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de
levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo”.
Em Atos 1, onde observamos o Senhor ressuscitado entre os Seus
discípulos, lemos: “E,
comendo com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de
Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim
ouvistes. Porque João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados
com o Espírito Santo, não muito depois destes dias” (vv.4,5). O Seu precursor
havia declarado que Cristo batizaria Israel com “o Espírito Santo e com fogo”, contudo
aqui o Senhor menciona apenas que os discípulos seriam batizados com o Espírito
Santo. Por que isso? Por que o Senhor Jesus omite as palavras “e com fogo”? A
resposta é que nas Escrituras “fogo” está ligado, sem exceção, com o juízo
divino. Desta forma, a razão é óbvia por que o Senhor omite “e com fogo” destas
Suas palavras registradas em Atos 1. Ele estava prestes a agir não em
julgamento, mas em graça!
Também é evidente por que as palavras “e com fogo” são registradas
por Mateus, porque esse Evangelho trata, essencialmente, com relacionamento
dispensacional, e revela muita coisa concernente ao tempo do fim. Deus ainda está
por “batizar” o Israel infiel “com fogo”, referência feita aos julgamentos da
tribulação, durante o tempo da “Tribulação de Jacó”. Nesse tempo se cumprirá a
palavra sobre o Messias rejeitado: “A sua pá, ele a tem na mão e limpará
completamente a sua eira; recolherá o seu trigo no celeiro, mas queimará a
palha em fogo inextinguível” (Mateus 3.12). Quão claramente definem essas palavras
o batismo “de fogo”!
O silêncio do Senhor ressuscitado a respeito do “fogo”, ao dirigir-se
aos discípulos a
respeito do “batismo com o Espírito Santo”, recebe força e
significância quando descobrimos
que o Evangelho de Marcos fornece a essência daquilo que Mateus
registra do discurso de João Batista, mas omite as palavras “e com fogo” — “Após mim vem aquele
que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de, curvando-me, desatar-lhe as
correias das sandálias. Eu vos tenho batizado com água; ele, porém, vos batizará com o Espírito
Santo” (Marcos 1.7,8). Por que isso? Porque, como já assinalamos, “fogo” é o conhecido símbolo
do julgamento de Deus (muitas vezes manifestado com fogo literal), e Marcos, que apresenta
Cristo como o Servo de Jeová, foi, obviamente, orientado pelo Espírito, a omitir as palavras
“e com fogo”, porque como Servo Ele não executa juízo. As palavras “e com fogo”
encontram-se, contudo, em Lucas, e isso outra vez é muito significativo. Uma vez que Lucas apresenta
Cristo como “o Filho do Homem”, e em João 5 lemos: “E lhe deu autoridade para julgar, porque
é o Filho do Homem” (verso 27). Essa inclusão das palavras “e com fogo” nos Evangelhos de
Mateus e de Lucas, e omitidas em Marcos, evidenciam de forma assombrosa a inspiração verbal
das Escrituras, acima da capacidade dos instrumentos usados por Ele no escrever
da Palavra de Deus!
Os versículos finais de Mateus 3 nos mostram o Senhor Jesus, em
maravilhosa graça,
assumindo Seu lugar com o remanescente fiel de Israel: “Por esse
tempo, dirigiu-se Jesus da
Galileia para o Jordão, a fim de que João o batizasse” (3.13). João
ficou tão chocado que, a
princípio, não quis batizá-lo (são poucos os homens, mesmo os
melhores deles, que entendem
as coisas de Deus): “Ele, porém, o dissuadia, dizendo: Eu é que
preciso ser batizado por ti, e tu
vens a mim?” (3.14). Repare, mais uma vez, que Mateus é o único dos
Evangelistas que
menciona esse recuo do Batista diante da pretensão de Jesus de
batizar-Se. E aqui é o lugar
próprio para registrar esse fato, porque ele ressalta a real
dignidade e majestade do Messias de Israel. Não vamos nos deter, agora, no significado e no propósito do
batismo do Salvador; por ora é suficiente dizer que isso revelou Cristo como Aquele que viria
dos céus para agir como o Substituto do Seu povo, para morrer em seu lugar, e dessa forma Ele,
no início do Seu
ministério público, Se identifica com aqueles a quem Ele representa,
assumindo o Seu lugar ao
lado deles naquilo que falava de morte. A descida do Espírito Santo
sobre Ele confirma que Ele é o verdadeiro Messias, o Ungido (veja Atos 10.38), e o testemunho
audível do Pai atesta a Sua idoneidade e capacidade de realizar a Obra que Ele estava para
executar.